Os Maias

Os Maias é uma das obras mais conhecidas do escritor português Eça de Queiroz. O livro foi publicado no Porto em 1888.

No romance Os Maias, visa elaborar um retrato da sociedade e dentro do espírito naturalista, procura encontrar razões para a crise social, política e cultural a partir da formação do indivíduo. Factor de humanização, de socialização e de autonomia, a educação produz ou reproduz modelos sociais e políticos que propõem um sistema de valores e princípios que são a base de uma sociedade.

 

Pedro da Maia e Eusebiozinho protagonizam a educação tradicionalista e conservadora, enquanto Carlos recebe a educação inglesa.

A incapacidade para enfrentar as contrariedades ou a capacidade para se tornar interveniente na sociedade são as consequências imediatas dos processos educativos opostos.

 

A educação tradicionalista e conservadora caracteriza-se pelo recurso à memorização; ao primado da cartilha apenas com os saberes e os valores aí insertos; à “moral do catecismo” e da devoção religiosa com a conceção punitiva do pecado; ao estudo do latim como língua morta; à fuga ao ar livre e ao receio do contacto com a Natureza.

 

A educação inglesa caracteriza-se pelo desenvolvimento da inteligência graças ao conhecimento experimental; pelo desprezo da cartilha, embora com a defesa do “amor da virtude” e “da honra” como convém a “um cavalheiro” e a “um homem de bem”; pela ginástica e pela vida ao ar livre; pelo contacto directo com a Natureza, pelo gosto das línguas vivas.

 

A educação tradicionalista e conservadora desvalorizou a criatividade e o juízo crítico, deformou a vontade própria, arrastou os indivíduos para a decadência física e moral. Em Pedro da Maia, por exemplo, levou-o a uma devoção histérica pela mãe e tornou-o incapaz de encontrar uma solução para a sua vida, quando Maria Monforte o abandonou; em relação à personagem Eusebiozinho, tornou-o “molengão e tristonho”, arrastou-o para uma vida de corrupção, para um casamento infeliz e para a debilidade física.

A educação inglesa procurou “criar a saúde, a força e os seus hábitos”, fortalecendo o corpo e o espírito. Graças a ela, Carlos da Maia adquiriu valores do trabalho e do conhecimento experimental que o levaram a abraçar um curso de medicina e a projectos de investigação, de empenhamento na vida literária, cultural e cívica.

 

A vida de ociosidade de Carlos e o sequente fracasso dos seus projectos de trabalho útil e produtivo não resultaram da educação, mas da sociedade em que se viu inserido. A ausência de motivações no meio em que se movimentou, o próprio estatuto económico que não lhe exigia qualquer esforço e a paixão romântica que o seduziu foram causas suficientes para, apesar de culturalmente bem formado, desistir, sentir o desencanto e afastar-se das actividades produtivas. Mas ao contrário do seu pai, Pedro da Maia, que, perante o fracasso amoroso, se suicidou, Carlos procura um novo caminho, elaborando uma filosofia de vida, a que chama “fatalismo muçulmano”: “Nada desejar e nada recear… Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves.”

 

O papel das mulheres na Obra os Maias e não só:

Não só n’Os Maias mas também noutros livros de Eça de Queirós, como o Primo Basílio e o Crime do Padre Amaro, as personagens femininas representam o pecado da luxúria, da perdição.

 

Os historiadores tentam explicar este facto com base na rejeição materna que Eça sofreu.

Eça nasceu filho de uma relação não-marital. Embora os seus pais tivessem casado e tido mais filhos posteriormente, nunca o reconheceram como filho. Eça foi criado com a avó, depois com uma ama e, mais tarde num colégio. Os historiadores tentam estabelecer um paralelo entre o que a mãe de Eça representou para ele e a caracterização das mulheres na obra de Eça.

 

Em Os Maias, várias mulheres têm relações amorosas fora do casamento.

A primeira é Maria Monforte, a Negreira, que foge com o napolitano Tancredo, levando consigo a filha e originando a intriga principal. Raquel Cohen não resiste aos encantos de Ega, e amantiza-se com ele, mesmo sendo casada. O mesmo acontece entre Carlos da Maia e condessa de Gouvarinho.

Maria Eduarda não era casada, mas apresenta-se em Lisboa com o apelido do acompanhante, ao passo que toda a sociedade lisboeta pensasse que este fosse seu marido. Ainda assim (e, aos olhos de Carlos, casada) envolve-se num romance com Carlos, que os leva a cometer o incesto.

 

Todas são caracterizadas como seres fúteis e envoltas num ambiente de insatisfação [Maria Monforte (enquanto casada com Pedro da Maia), a Gouvarinho e Raquel Cohen] e mesmo de degradação (imagem que é dada de Maria Monforte no seu apartamento de Paris).

Ao passo que Maria Monforte e Maria Eduarda se inserem das tramas secundária e principal, respectivamente, as duas outras personagens são personagens-tipo, que caracterizam a sociedade e os costumes da época.